domingo, 6 de agosto de 2017

Ingrediente.

Saí tantos dias porta fora, carregando a minha pesada bicicleta velha. Apanhei tanta chuva, vi tão poucas vezes o sol.... aquela ilha tornou-me na versão mais branca de mim que alguma vez existiu!

A minha casa... Jesus, era uma absoluta loucura! Chegámos a ser 8, numa casa podre e descuidada. Era um luxo, chegar ao fim do dia e ter uma frigideira limpa para cozinhar. E, descobri tarde demais, havia escolhido o paraíso das aranhas.

Demorei tanto para me habituar. Para parar de chorar. Foi de longe a maior prova que já me coloquei a mim mesma.

Senti-me sozinha durante muito tempo. Isto apesar de ter encontrado pessoas fantásticas desde o primeiro dia, que me orientaram, cuidaram. Tive as pessoas suficientes para nunca me perder. Mentira, perdi-me muito. De riso, de encanto, de curiosidade.

Mas houve sempre espaço para estar só. Tão só que por vezes caminhava até ao centro da cidade, em direcção à segunda rua mais movimentada do país, para sentir a presença de pessoas. Ainda que não fossem minhas, que não me fossem nada. Mas eu ansiava por não estar sozinha.
Lembro-me da primeira vez que alguém me tocou, desde que lá cheguei; devia ter passado pouco mais de um mês. Um housemate colocou uma mão no meu ombro, carinhosamente, enquanto eu lavava a loiça. Eu dei um salto. Já não sabia o que era.

Conhecendo-me como conheço, hoje sei que foi um acto extremo. Sei que foi um pouco louco. Pus-me completamente em cheque. A zona de conforto foi borda fora.

E mesmo assim, reparo hoje, fui tão feliz.
Tenho voltado atrás, revendo fotografias e histórias, relendo histórias, para me inteirar dos ingredientes desta alegria. Porque é ali, digo a mim mesma, que está o segredo. Se eu puder compreender este fenómeno, poderei replicá-lo. Fazer acontecer. Só há um ingrediente a entrar-me pelos olhos adentro.

A coragem. A coragem que eu tive, e como ela me encheu.

sexta-feira, 13 de março de 2015

In Glasgow (for a conference) - 3 and 4 December 2014


Levantar cedo. Apanhar um comboio até à Escócia. Não podia ser mais emocionante! E logo eu, que adoro comboios! Ia participar numa conferência, onde iria apresentar um poster!
Apesar do sono e da hora matutina, o entusiasmo ultrapassava tudo! Ia viajar para outra cidade - outro país! -, passar a noite lá, e no dia seguinte participaria numa conferência, completamente sozinha! Glasgow esperava por mim! 





Lembro-me de ver a paisagem a mudar, à medida que o comboio avançava norte acima! Tornando-se cada vez mais austero.
Bebi um chocolate quente para acalmar os nervos, acompanhada pelas notas do poster, que fui relendo caminho fora.
Aproveitei também para escrever, tomando nota do que via e sentia. As viagens de comboio aguçam tanto a inspiração...

À chegada, deparo-me com uma estação enorme! E muito bonita! Tenho uma coisa com estações... fazem-me sempre pensar em encontros, em abraços e em saudades que se podem finalmente matar... sim, fazem-me pensar em amor!

Gosto do burburinho, das malas de viagem que rolam nos pavimentos, da pressa das pessoas e da graça que é tentar adivinhar se chegam ou estão prestes a ir.

Estava curiosíssima com a cidade, era hora de começar a explorar.

Vi bastante da cidade, depois de ir deixar a bagagem ao hostel onde iria passar a noite (esse sim, assustador!). Nada que me enlouquecesse - não achei uma cidade nada extraordinária - mas fartei-me de caminhar.










Gostei das pontes, da variedade de edifícios, colados uns aos outros sem qualquer tipo de regra arquitectónica a organizá-los.

Gostei da ponte com os cadeados...
Gostei da arte.

Não tenho muito a dizer das pessoas... pelo menos, nada de especialmente positivo.


Não gostei mesmo nada do meu quarto, que embora fosse pertíssimo do hotel onde a conferência ia ter lugar, era decrépito!
E as pessoas que lá trabalhavam tinham um ar tão... duvidoso.

Quando lá cheguei à porta, depois de jantar, tinha um grupo manhoso por lá, a meter-se com quem passava. Depois ouvi, através do intercomunicador, o recepcionista a mandá-los embora.

Fiz uma manobra de quem quer passar despercebido e na verdade não está nada interessado em ir para ali, e quando os vi virar costas, entrei a correr.




Palavra de honra que até descobri uma mancha vermelha nos azulejos da parede da casa de banho, que eu jurei a mim própria ser do inquilino anterior, que havia sido ali assassinado!! E tinha um alçapão no quarto, eu só pensava quando é que me aparecia alguém por ali... palavra de honra que dormi tão mal... Mas a cidade também não se me afigurou segura, acho que teve que ver com isso.


Enfim, no dia seguinte lá me "empiriquitei" (a luta que foi para decidir a roupa, e a maquilhagem, e tudo... queria estar perfeita!), e lá passei o dia junto ao meu poster, orgulhosamente feito por mim, e impresso em Manchester. Inclusivamente encontrei a minha orientadora de Manchester por lá (tratava-se da conferência anual da Ordem dos Psicólogos Britânicos).

Mais um objectivo, conseguido com trabalho, com empenho... e com coragem!


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A uma semana do fim. One week away...

A uma semana do fim deste capitulo, sei desde logo porque e que nao tenho vindo aqui escrever. Nao deixo, por isso, de vos dever um pedido de desculpas, aqueles que voltaram a esta pagina e nao encontraram nada de novo para ver. Mas a vida tem-se vivido mais facil, nos ultimos meses. Mais minha, mais alegre. E por isso o tempo para escrever escasseia.

Considero isto algo de muito bom; melhor do que poderia esperar. Porque recordo na pele os primeiros posts, doridos, chorosos, solitarios. Com a escrita a servir-me de boia, para tentar agarrar-me ao que conhecia, e que estava longe de mim.
Mas agora ja conheco este "aqui". Apaixonei-me por ele. E acima de tudo, apaixonei-me pela pessoa que sou aqui.

Quero levar-me de volta. Inteirinha, tal como estou aqui. Cresci tanto, e ainda vejo tanto caminho "para cima", tanto potencial para evoluir!
Vou daqui cheia, como podem ver. Era este o objectivo e nao podia estar mais feliz com isso, ainda que a parte profissional nao me tenha dado tudo o que esperava.
Mas conheci pessoas maravilhosas. Vivi coisas tao bonitas. E conheci outras pessoas nao tao bonitas, mas que tambem me ensinaram coisas que eu precisava de aprender.

Grata. Grata e a palavra. Grata a mim mesma por ter sido suficientemente esperta para dar este passo. Grata a todos os que me apoiaram, encorajaram, riram comigo ou choraram baixinho. Grata, basicamente, a todas as boas almas que apanhei pelo caminho [e tambem aquelas que me abandonaram... tornaram o proximo passo tao mais facil!]

Vou daqui, e nao sei se volto. Ou por outra, voltar volto de certeza [deixo um bocadinho do coracao por ca]. So nao sei se volto para ficar.

**
Standing a week before the end of this chapter, I know right away why I have stopped coming here to write. I still owe you an apology; to those who have returned and found nothing new to look at. But life has become easier, in the last few months. Closer to the real 'me', happier. And therefore the time left to write about it was sparse.

I consider this a good thing; better than what I could ever expect. Because I can still taste the first few posts on my skin: hurt, tearful, solitary. With writing serving as a life-saver, trying to hold on to what I knew, and was far from me.
But now I know this 'here'. I have fallen in love with it. And above all, I have fallen in love with the person that I grew up to be here.

I want to take myself back. In one piece, just as I am here. I have grown so much, and I still see so much road 'up and forward', so much potential to evolve!
I leave here feeling full, as you can see. This was the purpose of it and I could not be happier with it, even though the professional part has not turned out to be what I hoped for.
But I met incredible people. I lived so many beautiful things. And I met some other people who were not that great, but who also taught me things that I needed to learn.

Grateful. Grateful is the word. Grateful to myself for having been smart enough to take this step. Grateful to everyone who supported me, encouraged, laughed with me or cried silently. Grateful, basically, to every good souls along the way [and also those who abandoned me... making the next step much easier for me!].

I leave here, not sure if I will be coming back. And then again, I am sure I will be coming back [I am leaving a bit of my heart behind]. I am just not sure if I will be back to stay.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Menos de dois meses. [Less than two months to go.]

Foi a ternura do Natal. Foi um desembrulhar de sorrisos como prendas. A companhia e o conforto das rotinas de sempre. Das pessoas de sempre. Pessoas amadas.
E depois foi o regresso, quando os pes ja tinham assentado, e tudo volta a baralhar-se por uns dias.
Redescobrirmo-nos envolve tambem um grau de desconforto, conforme nos apercebemos de tenues (mas significativas) mudancas no nosso "corpo" presente, que ja nao nos permitem adaptarmo-nos aquele mundo que antes nos parecia ser o unico.
Independentemente do que possa acontecer na sequencia desta aventura, estou segura de que foi das melhores decisoes que tomei na minha vida. Porque me permitiu abrir qualquer coisa. Uma janela ou uma porta, ainda nao sei. Mas certamente crescer.
Mas crescer tambem e dor (dai, "dores de crescimento"!). Tambem e abrir mao de coisas que achavamos que eram para sempre. Que eram nossas, parte de nos. E tambem e errar. Faz parte do processo, ainda que nao nos agrade.
Ainda nao sei o quanto cresci. O quanto perdi, nem o quanto vou ter de abdicar. Mas apesar do que possa vir, estou feliz por ter vindo. E tenho a certeza de que os dias que estao por vir serao melhores, gracas a este passo louco que dei. E tambem as coisas boas que fiz, aos erros que cometi.
Obrigada aos que me seguem e ate ja. Um bom ano para todos.

It was Christmas tenderness. It was unwrapping smiles as if they were presents. The company and comfort of the routines from the old days. Of people of the old days. Loved ones.
And then I returned, when my feet had finally settled, and all gets scrambled once again for a couple of days.
Rediscovering ourselves also involves a certain degree of discomfort, as we realize that there are delicate (but meaningful) changes going on in our 'present body', which no longer allow us to adapt to that world we once thought of as the only one.
No matter what may happen following this adventure, I am sure it was one of the best decisions I have ever made. Because it allowed me to open something up. A door or a window, I still do not know. But certainly growth.
But growing up is also pain (hence, growing pains!). It also means letting go of things we thought were forever. That were ours, part of us. And it is also about making mistakes. It is part of the process, even if we don't find it pleasant.
I still do not know how much I have grown. How much I have lost, or how much I will have to let go of. But despite what may come, I am happy I came. And I am sure my coming days will be better because of this crazy step I took. And also the good things and mistakes I have made.
Thank you to everyone who follows this page. I will see you soon. Have yourselves a happy new year.

domingo, 30 de novembro de 2014

Estou por cá há 3 meses e 1 dia. Parabéns para mim.

Tenho-me deixado estar ausente, pelo que peço desculpa. Os dias têm sido cheios dessa expressão bonita que é o "lufa-lufa". Por melhores razões nuns dias, por piores razões noutros...
Na semana que passou fui passar o meu aniversário a casa.
Foi muito bonito, e também muito emotivo.
Recordo bem o dia do meu 29º aniversário, no dia 20 de Novembro. Que começou no metro, continuou no aeroporto com uns nervos desgraçados e uma excitação enorme, e se demorou nos braços dos pais e do companheiro à chegada a Lisboa.
O M. faltou mesmo a uma consulta para me esperar. Os pais estavam em êxtase. Foi tudo tão rápido que parece que se esfumou por entre os abraços, os beijinhos e os sorrisos.
Enchi a pança com a comida boa dos pais, que trabalharam num verdadeiro menu ao longo da minha estadia.
O dia do meu aniversário passou com um cozido à portuguesa ao almoço (cheio das coisas que mais adoro), e terminou num italiano despretensioso com óptimas pizzas, rodeada dos que me são do coração - os pais, o companheiro, a mana e o cunhado.
Os dias seguintes foram de azáfama, para ir corrigir a graduação dos óculos (que os computadores de Manchester já andam a estrafalhar os olhos da menina), para visitar o sobrinho recém-nascido, o A. (que é lindo!!), para visitar algumas pessoas, para aterrar na minha cama feita de nuvens e para mergulhar numa noite com os amigos, que foi absolutamente perfeita. Quero demorar-me neste momento: uma mesa cheia de pessoas dos mais diferentes contextos, desde alguém que conheço desde a escola primária até ao G., que conheci aqui mas que se mudou agora para Portugal e fez questão de estar presente; desde seguranças, a jogadores de póquer, a psicólogas, investigadores, bio-tecnólogos e professores, a mesa tinha de tudo um pouco... todos se deram bem, as gargalhadas foram mais que muitas e deu para matar as saudades da pessoa feliz que me sinto na sua presença!

O regresso a Manchester, depois de tantos mimos dos papás, dos amigos (e até do cão) foi, como se esperava, duro. Estava uma noite especialmente fria no domingo, e talvez por isso fiquei doente nessa madrugada. Na segunda-feira ainda fui trabalhar, cheia de dores de garganta e depois até com febre, mas caí à cama durante dois dias, só conseguindo voltar a mexer-me de lá na quinta-feira.
Aqui sim, foi um momento complicado; só sabemos a sorte que tínhamos quando nos vemos sozinhos, com temperatura alta e dores, entre o frio e os calores, ou seja, numa situação de enorme vulnerabilidade e sem ninguém para nos dar um mimo. Há muito que não me ia tanto abaixo, e penso que foi uma mistura de coisas, entre as emoções fortes da ida a casa e o frio imperdoável (ou alguma virose que apanhei). As mudanças têm destas coisas, há sempre dois lados em tudo...

Ora ontem, depois de alguns dias menos felizes, tive uma noite muito alegre! Pela primeira vez fui sair com os meus flatmates, fomos a um clube assistir a um espectáculo audio-visual preparado por um dos flatmates, o E. (francês, recorde-se). Fui eu, o P. (inglês), a F. (italiana) e o G. (um italiano amigo da F., a viver cá temporariamente). Eu sentia-me especialmente bonita, no meu vestido/calção de bolinhas e maquilhada a preceito para a noite inglesa - praticando alguns dos conselhos da mana para uma maquilhagem impecável! Fui bastante elogiada e confesso que me sentia nas nuvens.
Depois de algumas bebidas, fomos juntar-nos ao casal que vivia antes aqui no meu quarto, o J. e a P., num bar onde se fazia o quê... jogava-se ping-pong!!
E acreditem-me, a combinação desta actividade com o ambiente e o estado de espírito de quem já bebeu um bocadinho pode tornar-se especialmente divertida!
No fim da noite, perto das 4, viemos para casa partilhando um táxi (custou menos de 6 libras), e todos fizemos uma ceia antes de ir para a cama (uns comendo brócolos crus e banana, outros torradas e outros ainda pasta com pesto...!)... estávamos todos esfomeados e eu só pensava na minha rica roulote no Infantado!

E foi assim que, sem querer, celebrei o dia exacto dos meus três meses em Manchester. Com pompa e circunstância.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Faltam 10 dias. A Florence foi às compras. E recebi um postal!

Faltam 10 dias para voltar à minha cidade.
Não há palavras para descrever como estou feliz. E também admirada. Como o tempo passa a correr!

Ainda ontem saía do avião, de olhos marejados de lágrimas. Parece que foi ontem, quando a solidão me esmagava o peito. Ainda mesmo há pouco, aterrei numa casa onde me sentia miserável. Onde depois fiz amigos, que tornaram a casa menos miserável.
Depois, e logo a seguir, vim para esta casa, onde me senti um pouco melhor. Assim fui conhecendo esta cidade, ao início tão insípida a meus olhos. Fui-me encarregando de ficar a sós com ela, para a conhecer, e deixar que ela me conhecesse a mim (ou fui eu que me fui conhecendo melhor a mim própria?). Aprendi a saborear esses momentos de solidão. A misturar-me na multidão. A resolver os meus assuntos pelas minhas mãos. A ter tempo para mim.
Depois tive a visita do M., e o meu mundo tornou-se ainda mais risonho, as horas mais esguias. Logo a seguir (porque os dias voaram!), ele foi embora e o meu coração partiu-se um bocadinho... mas a recuperação foi mais rápida do que o costume.
E agora, assim num pulinho, já passaram dois meses desde que estou aqui, e estou prestes a ir a casa de fim-de-semana.
Que orgulhosa que estou de mim...

Também estou feliz, porque recebi mais um postal da C.. Repetindo a doce piada do esquilo, que me coloriu os olhos nos meus primeiros dias em Manchester, antevi uma colecção de esquilos na parede! Sorri com as suas palavras. Senti-a perto. Senti saudades, das que fazem sorrir.
A caneta entretanto já se vingou nos últimos postais (tenho definitivamente de ir comprar mais... e mais selos), apanhada por esta febre boa da escrita. Já começo a sentir energias bonitas na minha parede!


Ah, E a Florence e eu hoje fomos às compras nocturnas, pela primeira vez (que aqui o sol põe-se às 16h30...)! Já munida das suas luzes, mais parecia uma árvore de Natal, cheia de estilo, a piscar o olho à noite escura. Já se vai mostrando mais segura (ela, e não a condutora!) na estrada. Fomos ao Iceland, o paraíso dos congelados, buscar uma lasanha, e depois pão e eclairs de chocolate do Aldi (surpreendentemente bons!).
E quando chegámos, a Florence e eu ainda tivemos uma prenda: o E., o flatmate francês "emprestadeu-nos" um pannier... será mais fácil irmos às compras da próxima vez. Já estamos quase prontas para fazer disto rotina diária! Só falta que a Florence deixe de enguiçar na terceira mudança, porque a dona ainda não está em forma para estas brincadeiras...!

sábado, 8 de novembro de 2014

Dois meses e continuamos por cá.

Ora bem, não venho cá há imenso tempo!! Desde então, tanta coisa tem acontecido... vamos ver se consigo actualizar condignamente quem se dá ao trabalho de aqui me vir visitar!
Pelo Halloween ofereci-me uma prenda especial - uma bicicleta à qual dei o nome de Florence. É uma bicicleta de 1990, já com uns toques de ferrugem, um selim branco de pele um bocadinho rijo e ligeiramente alta demais para as minhas pernas portuguesas. Não obstante, acho que fazemos uma dupla muito elegante!
O Halloween teve também um lado um bocadinho triste para mim. Uma das minhas maiores amigas fez a sua despedida de solteira no dia 1, em Lisboa. Tive, apesar da distância, o privilégio de assistir a um bocadinho deste dia tão importante para ela através do skype, testemunhando a sua alegria. Revi amigos e troquei sorrisos, mas também caíram lágrimas. Queria estar ali, no meio deles. Queria ajudar a criar aquele vestido de noiva-cadáver com papel higiénico, e contribuir para aquele sorriso...  Uma barreira física impedia-me. Mas o meu coração estava lá.

Desde então tenho andado em "experiências ciclistas" aqui pela zona, para tentar recuperar um pouco a forma que tinha perdido.
Gostava de conseguir passar a ir trabalhar de bicicleta - iria poupar uns cobres valentes no passe de autocarro, ainda que tivesse de fazer algum investimento - luzes para a bicicleta, calças para proteger da chuva, quem sabe um cestinho... Mas acho que tenho de atingir uma boa forma física primeiro, para não chegar à Faculdade a suar desvairadamente!
No domingo fui mesmo de bicicleta até ao centro, e foi então que uma memória antiga veio até mim.
A memória de mim e do M. a percorrermos as ruas de Barcelona nas nossas bicicletas. Acho que foi nessa ocasião que vesti o meu sorriso mais verdadeiro e sincero. Lembro-me de o M. dizer várias vezes que nunca me tinha visto tão feliz. E estava, de facto. 
Talvez em resultado de andar de boca aberta, extasiada pela experiência, na segunda-feira acordei quase sem conseguir engolir. Tinha altos na língua, e a língua verde.
Ao longo da manhã não me sentia nada confortável, pelo que acabei por sair do trabalho e ir a um walk in centre, uma espécie de posto de saúde para quem não está registado no sistema de saúde de cá (e portanto não tem um médico de família, general practitioner ou GP, como eles chamam). A parte curiosa deste centro é que fica dentro da loja Boots.
Fui vista por um médico que me mediu a febre, examinou garganta e ouvidos, concluindo que devia tratar-se de uma infecção ou fungo na língua, já que não tinha nenhuma outra zona afectada.
 Desci com uma receita na mão (sem pagar nada pela consulta), e aviei um xarope antibiótico para a língua na farmácia da Boots.
Felizmente o médico tinha razão; no dia seguinte os altos na língua já não me incomodavam, e a língua foi perdendo a cor verde ao longo dos dias.
Na quinta-feira passei uma das melhores noites desde que estou aqui, apesar de ser uma ocasião menos feliz. A M., que eu conheci na casa para onde fui quando cheguei a Manchester, e que tanto me apoiou quando precisei, estava a fazer um jantar de despedida. No dia seguinte iria para o Peru por 3 meses, cumprindo um sonho que tinha há muito tempo.
Neste jantar conheci os dois franceses que estão a morar agora na casa da M. e do G., bem como um casal de portugueses amigos do G., que têm dois filhos.
Jantámos uma pasta muito boa, conversámos em várias línguas, tivemos fogo de artifício  no quintal, rimos bastante, e despedimo-nos desta menina de coração grande. Fiz-lhe um postal que penso que simboliza o quanto ela foi importante para mim, e despedi-me dela com um abraço.
Hoje voltei a ir ao centro de bicicleta, comprei luzes para a bicicleta e as calças para a chuva. Tenho algum medo de estar a gastar demasiado dinheiro com isto, mas a minha esperança é que eu venha a ser capaz de me habituar totalmente à bicicleta. Sei que me iria sentir muito feliz comigo própria, se fosse capaz de o fazer.
Ainda de contar que esta semana estivemos todos juntos, os flatmates, na sala a ver o filme Leon. Foi um momento bom, talvez por ser raro.
E pronto, por hoje acho que é isto. Em resumo, acho que acolhi o mês de Novembro de braços abertos. Já passei a barreira dos dois meses, e continuo forte.
Boa noite, a todos os meus amigos debaixo dos nossos bonitos blue skies. Ainda que não estejam muito azuis hoje, é assim que me recordo deles.